O diretor do Centro das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Madeira do Estado de Mato Grosso (Cipem) e presidente do Sindicato das Indústrias Madeireiras e Moveleiras do Noroeste de Mato Grosso (Simno), Roberto Rios, concedeu entrevista para a equipe do projeto “Microeixos de Transporte de Cargas do Estado de Mato Grosso” na manhã da última segunda-feira (06.02). Na pauta, os desafios e necessidades do setor de base florestal do estado em relação à logística e as perspectivas de crescimento nos próximos anos.
A entrevista foi conduzida pela gerente do projeto, Andrea Machado, e pelo coordenador geral, Aldo Queiroz, e aconteceu na sede do Cipem, anexo à Federação das Indústrias no Estado de Mato Grosso (FIEMT), em Cuiabá. Como desafios do setor, Roberto Rios destacou as péssimas condições de trafegabilidade de algumas rodovias, principalmente no noroeste mato-grossense, região que é uma grande produtora de madeira nativa no estado.
Ele lembrou que, muitas vezes, os empresários têm que arcar com a manutenção das estradas para não perder a produção. “Nosso setor é muito sofrido. Falta atenção do estado para as nossas necessidades. Em muitos casos somos nós quem fazemos a manutenção das estradas, a construção de pontes e etc. A gente tenta cuidar, senão ninguém consegue trabalhar. É intrigante que um setor que contribui tanto para a geração de divisas tenha ainda de fazer o trabalho que é de responsabilidade dos governos, sob pena de interromper sua produção”, pontuou.
Outra questão é que a falta de manutenção das estradas torna mais caro o frete e, consequentemente, o produto final. Atualmente, segundo ele, o frete representa 35% do valor final do que é produzido em Mato Grosso. “Nossa madeira fica mais cara e a gente perde em competitividade. Em alguns lugares é até difícil conseguir frete, porque os caminhoneiros preferem transportar grãos, com rotas melhor conservadas, do que arriscar seu veículo nas regiões produtoras de madeira”, afirmou Roberto.
Os eixos logísticos prioritários para o setor apresentados pelo diretor do Cipem foram a BR 174, que liga Mato Grosso à Rondônia; a MT 208, que interliga a região de Alta Floresta e Cotriguaçu, polos importantes de produção; e a BR 163, que, se pavimentada e em boas condições, permitiria o escoamento da produção por meio dos portos de Santarém e Miritituba, no Pará.
A BR 174 é umas das principais vias da região noroeste do estado e alvo de manifestações frequentes, por parte dos empresários e da população em geral, por suas péssimas condições, principalmente no trecho de Castanheira à Colniza. Se pavimentada, ela permitiria o escoamento da produção através dos portos do Peru, via Oceano Pacífico, o que reduziria tempo e custos pela proximidade com os principais mercados consumidores: China, costa oeste dos Estados Unidos e Canadá.
“A 174 tinha que sair de Colniza e chegar até Machadinho do Oeste, em Rondônia, mas é interrompida em Guariba [distrito de Colniza]. A gente precisa que ela seja pavimentada e que chegue até Machadinho em boas condições, para escoar a produção. Estamos esperando por isso há 30 anos, e isso não é piada!”.
Na entrevista, Roberto destacou também a importância da implantação da Hidrovia Juruena/Tapajós e da expansão da ferrovia Ferronorte de Rondonópolis até Cuiabá. Ele defendeu ainda que a construção da Ferrovia Transoceânica, que ligaria os oceanos Atlântico e Pacífico, do litoral do Rio de Janeiro ao Peru, passando pelos estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Acre, também traria grandes oportunidades para o setor.
Andreia Machado, gerente do projeto, destacou a importância da cadeia produtiva da madeira no estado. “Quando analisamos as cadeias de Mato Grosso, verificamos que a madeira nativa é muito importante, pelo volume produzido e o que representa na economia, por isso escolhemos olhar ela mais de perto no estudo. A gente vai entrar à fundo na produção, consumo e projeções de crescimento para os próximos anos e ver o que o setor precisa em termos logísticos para reduzir custos e impulsionar a produção”, afirmou a pesquisadora.
O projeto
Durante o período da tarde, foi realizado o evento de apresentação do projeto, que reuniu diversos representantes do poder público estadual e das cadeias produtivas estudadas. A apresentação ocorreu no auditório no auditório João Nicolau Petroni, na sede FIEMT. Na ocasião, o diretor do projeto, Olivier Girard, responsável pela apresentação, esclareceu a metodologia aplicada, os objetivos e os próximos passos do estudo. Além disso, a equipe colheu contribuições dos participantes.
O projeto Microeixos de Transporte de Cargas do Estado de Mato Grosso é executado pela empresa Macrologística, com patrocínio da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), e conta com o apoio da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) e da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp).
Inicialmente, foram mapeadas as 11 cadeias produtivas mais importantes do estado, com base em critérios como volume de produção e de movimentação, volume exportado e participação no Produto Interno Bruto (PIB). Dos 42 produtos pertencentes a essas cadeias produtivas, foram selecionados 19 produtos de 9 cadeias que terão seus polos de produção e movimentações de carga analisados com mais detalhes nesta fase do projeto. Serão realizadas entrevistas com os representantes desses setores para coleta de dados que subsidiarão a análise.
O estudo tem o objetivo de elencar os projetos prioritários de infraestrutura logística com base nas necessidades integradas dos setores produtivos mais relevantes do estado. Serão levantados os projetos já existentes, os planejados no âmbito federal e estadual e os mais necessários para o desenvolvimento de Mato Grosso, para apoiar o planejamento estratégico da região.
“Vamos mapear as particularidades e necessidades dos setores produtivos do estado. Através do estudo saberemos, por exemplo, quais indústrias e regiões são estratégicas para investimentos e o que cada uma delas precisa para crescer. Com isso, será possível planejar de maneira mais consciente e certeira os próximos passos de Mato Grosso no futuro”, concluiu o Olivier Girard.